“Luta por conseguir que o Santo Sacrifício do Altar seja o centro e a raiz da tua vida interior, de maneira que toda a jornada se converta num ato de culto.”
— São Josemaria Escrivá

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O que é a Santa Missa?

Quando lemos as Sagradas Escrituras, é difícil não ficarmos admirados com a grandiosidade dos milagres operados por Jesus Cristo. Não faltam exemplos de pessoas que, maltratadas por doenças do corpo e da alma, recorrem ao Nazareno para obterem alívio para suas dores e libertação de suas penas físicas, morais e espirituais. As curas da mulher que estava encurvada havia dezoito anos (Lc 13, 10-17), da mulher que sangrava e da filha de Jairo (Mc 5, 21-43), do servo do centurião (Lc 7, 1-10), além da ressurreição de Lázaro (Jn 11, 1-44), normalmente nos fazem desejar que milagres poderosos como esses ocorram também nos dias de hoje. “Seria muito mais fácil acreditar na existência de Deus e no seu imenso Amor”, pode-se pensar. No entanto, Jesus Cristo opera milagres cotidianamente sem que demos a eles a atenção devida. O maior desses milagres é a Santa Missa.

Para dizer de um modo simples, a Santa Missa é renovação incruenta do Sacrifício salvífico de Jesus Cristo e memorial de sua Paixão e Ressurreição. O que isso significa?

São Pio X
Afirma São Pio X em seu Catecismo que “a santa Missa é o sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre os nossos altares, debaixo das espécies de pão e de vinho, em memória do sacrifício da Cruz” (n. 652). O sacrifício de Jesus Cristo para a salvação do mundo foi Sua Paixão, onde sofreu e derramou Seu Sangue para a remissão dos pecados do homem, culminando em Sua morte na Cruz. Mesmo tendo ocorrido em um tempo e espaço específicos, esse sacrifício, por ter sido realizado pelo próprio Deus, situa-se fora do tempo e do espaço: Seu Sangue foi derramado para o perdão de todos os pecados passados, presentes e futuros de todos os homens. Em virtude desse caráter atemporal, o Catecismo da Igreja Católica acrescenta que a Santa Missa “atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador” (n. 1330). Por não haver derramamento de sangue – ou seja, por não haver sacrifício cruento –, a Santa Missa traz à nossa realidade temporal de maneira incruenta o sacrifício de Jesus Cristo.

Talvez venha à tona uma pergunta: como pode o sacerdote ser capaz de operar um milagre como esse? Eis um ponto que deve ser enfatizado: o sacerdote não celebra – ou, pelo menos, não deveria fazê-lo – a Santa Missa em seu próprio nome. Durante o Santo Sacrifício do Altar, é o próprio Deus Filho que, utilizando o sacerdote como Seu instrumento, opera a renovação de Seu sacrifício. A esse respeito, São Josemaria Escrivá ensinava:
A Santa Missa – insisto – é ação divina, trinitária, não humana. O sacerdote que celebra serve o desígnio divino do Senhor pondo à sua disposição o seu corpo e a sua voz. Não age, porém, em nome próprio, mas in persona et in nomine Christi, na Pessoa de Cristo e em nome de Cristo.
Papa Pio XII
Na Santa Missa, Deus é o destinatário do sacrifício, o sacerdote que sacrifica a vítima e, por fim, a própria vítima imolada. O Venerável Papa Pio XII, em sua Carta Encíclica Mediator Dei, ensina: “O augusto Sacrifício do Altar não é, pois, uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-Se incruentamente, o sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a Cruz, oferecendo-Se todo ao Pai, vítima agradabilíssima” (n. 61). Quando o pão e vinho são consagrados, eles deixam de ser apenas pão e vinho, e, através da Transubstanciação, é o próprio Deus que se coloca nessas espécies. A hóstia e o vinho consagrados não são um mero símbolo da nossa fé em Cristo: eles são o próprio Cristo, que neles está presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. A Santíssima Trindade – Deus Pai Criador, Deus Filho Redentor, Deus Espírito Santo Consolador –, que tudo criou e que tudo sustenta em Sua vontade, desce do mais alto do Céu e se faz pão e vinho para que nós possamos, literalmente, nos alimentarmos de Sua divindade.

Diziam muitos santos que, quando a Santa Missa é celebrada, todo o Coro Celestial a observa com reverência e admiração; Maria Santíssima e todos os santos, estejam eles ou não nos altares mundo afora, curvam-se ante essa inenarrável maravilha; e muitas almas que estão no Purgatório recebem graças de Deus, abandonando aquele lugar de purificação para gozar eternamente da posse do Senhor. Mesmo que o sacerdote que celebra a Santa Missa seja a única pessoa presente, mesmo que ela seja celebrada em capelas humildes, isso acontece em cada celebração. A magnitude desse fato é algo que foge à nossa compreensão ordinária, e talvez seja por não meditarmos com frequência nesse grande milagre que deixamos a Santa Missa de lado ou a utilizamos para coisas que nada têm a ver com o que Deus quer de nós.

Venerável Fulton Sheen durante a consagração.
Como podemos ver, a Santa Missa é muito, muito mais do que uma ocasião para cantarmos músicas animadas, reencontrar os amigos, exibir coreografias ensaiadas e, muito à margem, encontrarmo-nos de maneira profundamente íntima com Nosso Senhor. Ao nos depararmos com a sua real natureza e com sua riqueza incalculável, começamos a ter alguma noção da enorme ingratidão e do grande desperdício que é participarmos da Santa Missa de qualquer jeito, de má vontade, apenas para “cumprir tabela”.

Para terminar esse texto, gostaria de contar uma história que, há alguns meses, um jovem sacerdote me contou. Certa vez, dois amigos conversavam sobre religião. Um deles era católico, e o outro, muçulmano. Dado momento, o muçulmano pergunta a seu amigo: “O que é a Missa?” O católico, contente por saber responder à pergunta do jeito certo, explicou ao amigo muçulmano que a Santa Missa era a renovação que Jesus Cristo fazia de Seu próprio sacrifício, que Ele fazia isso para que os homens pudessem tê-Lo mais perto de si, e que era a maior de todas as devoções cristãs. O muçulmano ficou admirado com a explicação e, sem demora, logo emendou outra pergunta: “E você vai todos os dias à Missa?” O católico sorriu de modo compreensivo e respondeu: “Não, não todos os dias. Só vou à Missa aos domingos, que é o dia em que é obrigatório.” O muçulmano ficou subitamente sério diante dessa resposta e disse, com indisfarçável raiva: “Você não tem vergonha de mentir de maneira tão descarada? Pensei que fôssemos amigos!” O católico, sem entender direito o que acontecia, perguntou: “Mas o que eu disse de errado?! Eu ofendi você?” O muçulmano respondeu: “Você mentiu. Deus não está nessa Missa que você diz. Se ele estivesse mesmo na Missa, e se você pudesse ver e tocar Deus de verdade, você não se contentaria em fazer isso apenas quando fosse obrigatório, mas faria isso todos os dias, ou sempre que possível. Pelo menos, é exatamente isso o que eu faria!”

Será que não passou da hora de começarmos a avaliar como todos nós participamos do Santo Sacrifício do Altar?

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